"EQUADOR PASSA EM S. TOMÉ E PRÍNCIPE"
Foi tal o entusiasmo com que li o livro “Equador”, que, logo aquando da sua publicação, senti um irreprimível impulso a escrever sobre ele, a divulgá-lo, recomendando-o a todos como uma obra imperdível. Miguel Sousa Tavares tem todos os motivos para sentir orgulho do seu trabalho e pretender preservá-lo.
A companhia de teatro “Fatias de Cá” (criada em Tomar em 1979), grupo de grande humildade, onde "todos fazem de tudo", utilizando de uma forma interactiva o património construído (de que é exemplo o Convento de Cristo) e paisagístico, tem já uma longa história de labor em prol da descentralização de acções culturais, tendo levado à cena, entre muitos outros espectáculos, obras como T de Lempicka, O Nome da Rosa, Rapariga com brinco de pérola, Diálogo das Compensadas, Tempestade, Sonho de uma noite de Verão e A Flauta Mágica, de autores que vão de Karl Valentim a Choderlos de Laclos, passando por Dario Fo, Frati, Gil Vicente, Yourcenar, Shakespeare, Lorca, Mozart.
Desde há meses que o grupo desenvolvia o projecto de levar à cena o romance “Equador”, teatralização da obra de Miguel Sousa Tavares, o que, necessariamente, seria do conhecimento do autor.
Um mês antes da estreia, o autor não permitiu a adaptação teatral do seu romance.
Dado o investimento já realizado, nomeadamente em adereços e guarda-roupa de época, decidiu o grupo criar uma nova história, passada no mesmo local e época – e, obviamente, com uma temática comum à do livro – a que deu o título “EQUADOR passa em S. Tomé e Príncipe”, em cena de 19 de Agosto a 4 de Setembro, às Sextas, Sábados e Domingos, às 19h18, no Parque Ambiental de Constância.
Sendo admirador do trabalho de ambas as partes, não poderia deixar de expressar o meu sincero lamento por esta situação.
É pena que Miguel Sousa Tavares não tenha permitido a adaptação teatral da sua obra; é minha firme convicção que todos teríamos a ganhar com isso: autor, leitores, companhia de teatro e espectadores.
Não terá agido correctamente o “Fatias de Cá”; a adaptação “forçada” a que recorreu não deixará de ser apercebida como uma forma de oportunismo, eventualmente com consequências a nível jurídico, dada a possível alegação de plágio.
Mas tal como considero que o “Fatias de Cá” não tomou a decisão correcta, não posso também concordar com aqueles que, ignorando o percurso da companhia e o seu notável papel ao nível da promoção do desenvolvimento cultural de uma região, pretendam, mesmo que involuntariamente, arrastar o seu nome para a “lama”.